No mesmo mês da Conferência do Clima, o Cecafé estabeleceu uma pioneira expedição de carbono nas principais origens produtoras de café de Minas Gerais.

Em 14 de novembro, encerrou-se a mais importante conferência do clima das Nações Unidas da história. A COP-26, realizada em Glasgow, Escócia, teve como relevante resultado a finalização do livro de regras do Acordo de Paris, regulamentando o artigo 6º, que trata do mercado global de carbono.

Embora ainda existam desafios regulatórios domésticos, o estabelecimento de regras gerais para a operacionalização desse mercado internacional traz segurança jurídica e oportunidades à canalização de incentivos econômicos e consolidação de instrumentos de mercado para a remuneração dos sistemas produtivos sustentáveis do agronegócio brasileiro.

Conforme evidenciado no Plano ABC+, está cientificamente comprovado que as tecnologias nacionais, como os sistemas integrados – a exemplo dos agroflorestais e da integração lavoura-pecuária-floresta –, os bioinsumos, os sistemas irrigados, o plantio direto, entre outros, reduzem a pegada de carbono dos produtos agropecuários e contribuem para maior resiliência das regiões produtoras aos impactos das mudanças climáticas.

Especificamente para a cafeicultura, há espaço para avançar mais em pesquisas para demonstrar e medir, com transparência e credibilidade científica, como as boas práticas e tecnologias inovadoras aplicadas nos diferentes sistemas produtivos contribuem para a mitigação das mudanças climáticas, estabelecendo um link com o mercado de recursos verdes em franca tendência de crescimento.

Como membro do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em conjunto com representantes dos demais segmentos da cadeia produtiva, tem orientado e acompanhado o desenvolvimento de projetos, pelo Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, na temática dos “Serviços Ambientais Relacionados às Mudanças Climáticas”, cujos resultados futuros deverão embasar os protocolos da cafeicultura de baixo carbono no âmbito do Programa ABC+.

Com foco em resultados de curto prazo, visando conectar de forma mais ampla o setor cafeeiro às oportunidades da nova economia que se desenham com mais clareza após a COP-26, o Cecafé também está desenvolvendo um projeto de pesquisa, com a participação direta dos exportadores associados, para suprir a lacuna de informações científicas na área de emissões e sequestro de carbono, considerando os diferentes modais produtivos do café brasileiro.

A literatura internacional não tem um foco específico nas realidades locais e a existência desses dados e informações é fundamental para a construção de protocolos de mensuração, relato e verificação, permitindo identificar oportunidades para pagamentos por serviços ambientais, bem como de incentivos econômicos para uma efetiva transição para sistemas produtivos de baixo carbono, onde necessário.

Por isso que, no mesmo mês em que os líderes mundiais discutiam seus compromissos para conter o aquecimento do planeta, o Cecafé estabeleceu uma pioneira expedição de carbono nas principais origens produtoras de café de Minas Gerais, o maior Estado produtor do Brasil.

Sob a liderança científica do professor Carlos Eduardo Cerri, da Esalq/USP, trincheiras foram abertas para a coleta de solo e cafeeiros foram extraídos em oito fazendas representativas dos sistemas produtivos das regiões Sul, Cerrado e Matas de Minas Gerais.

A análise laboratorial dessas amostras permitirá quantificar e comparar, com base em metodologia validada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a contribuição dos diferentes sistemas produtivos característicos da cafeicultura mineira para o sequestro de carbono da atmosfera e a consequente mitigação das mudanças climáticas.

A pesquisa também possui um componente de mensuração das emissões de gases de efeito estufa, que está sendo conduzida pelos especialistas do Imaflora, com base em dados de 40 fazendas produtoras de café das três regiões mineiras. Combinando as duas etapas, será determinado e comparado o balanço líquido de emissões de gases de efeito estufa dos diferentes sistemas produtivos que representam a cafeicultura de Minas Gerais.

Adicionalmente, o estudo também medirá a contribuição das áreas de vegetação nativa preservadas dentro das propriedades rurais para o sequestro do carbono da atmosfera. Esse é um serviço ambiental relevante prestado pelos territórios rurais das três regiões produtoras avaliadas no projeto que, somados, possuem 51,1 mil km2 de vegetação nativa dentro das fazendas, uma área equivalente a 1,25 vez o território da Suíça.

O Projeto Carbono do Cecafé tem atraído a atenção de parceiros globais, incluindo patrocínios de torrefadores e redes de cafeterias, bem como interesses para futuras parcerias voltadas à aplicação dos resultados. Esse ambiente de colaboração multistakeholder em prol da cafeicultura de baixo carbono será consolidado no Swiss Coffee Dinner 2022, evento organizado pela Swiss Coffee Trade Association (SCTA), que soube de nossa iniciativa e nos convidou para apresentar as principais conclusões da pesquisa.

O café brasileiro é sustentável e entrega benefícios socioambientais às comunidades onde está inserido, graças às tecnologias e boas práticas agrícolas adotadas pelos produtores.

Iniciativas protagonizadas pelo setor privado, após anos de investimento em práticas produtivas sustentáveis, já renderam os primeiros frutos, com recentes embarques de café carbono neutro negociados com prêmios significativos, que contribuem para remunerar os esforços dos cafeicultores pelos serviços ambientais prestados à sociedade.

Com seu Projeto Carbono, o Cecafé pretende contribuir com fundamentos científicos para ampliar o número de cafeicultores beneficiados por esses recursos, além de promover a imagem do café brasileiro nos principais mercados importadores, demonstrando que as práticas produtivas estão alinhadas a critérios ESG, mantendo o País na vanguarda da competitividade e sustentabilidade da cafeicultura mundial.

 

Marcos Matos
Diretor Geral

Silvia Pizzol
Gestora de Sustentabilidade