Discussões globais colocam em evidência as boas práticas promovidas nos programas de sustentabilidade do Cecafé.

No mês de março, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) publicou seu sexto relatório síntese[1], referente ao atual ciclo de avaliações sobre o aquecimento global antropogênico.

Apesar do caráter de urgência e o destaque à necessidade de ações em várias frentes em um ritmo muito mais acelerado para conter o aumento da temperatura abaixo de 2°C até o final deste século, o documento afirma que existem tecnologias suficientes para reverter a crise climática.

No tocante à agricultura, os cientistas globais avaliam que as mudanças climáticas reduzem a segurança alimentar e afetam a segurança hídrica, dificultando os esforços para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Entre as medidas efetivas para adaptação às mudanças climáticas, são citados: desenvolvimento de novas cultivares, melhorias na gestão e armazenamento de água nas propriedades rurais; boas práticas para conservação do solo e da água e abordagens mais sustentáveis de manejo da produção agropecuária.

Conectando os temas mudanças climáticas e segurança hídrica, também em março, no 30º aniversário do Dia Mundial da Água, a ONU realizou a Conferência Mundial da Água, em Nova York, nos Estados Unidos. O evento teve como objetivo reunir os países membros da Organização, suas agências, a sociedade civil e o setor empresarial para discutir iniciativas visando acelerar a Agenda 2030, principalmente em relação ao ODS 06 – Água Potável e Saneamento.

Para o setor agrícola, grande dependente da água para garantir a segurança alimentar, o ODS 06 está intrinsicamente relacionado a uma gestão racional dos recursos hídricos e à adoção de práticas conservacionistas do solo e da água.

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em conjunto com seus associados, tem desenvolvido programas, por meio de seu Pilar de Responsabilidade Social e Sustentabilidade, com o objetivo de difundir as boas práticas agrícolas relacionadas ao uso racional da água e à conservação dos recursos naturais.

Por meio da Plataforma de Ensino à Distância do Programa Produtor Informado[2], que estará disponível a partir de abril, cafeicultores e trabalhadores do setor terão acesso a capacitações nessas boas práticas, baseadas no Currículo de Sustentabilidade do Café, da Plataforma Global do Café (GCP, em inglês).

Entre as práticas alinhadas ao ODS 06, destacam-se: (i) destinação correta dos resíduos gerados pela propriedade rural, evitando a poluição dos recursos naturais; (ii) identificação e recuperação de áreas degradadas; (iii) preservação e recuperação das áreas de conservação da vegetação nativa; (iv) otimização do uso da água, via adoção de tecnologias que evitem o uso desnecessário e o desperdício; (v) monitoramento da qualidade e quantidade de água consumida; (vi) dimensionamento correto do sistema de irrigação, dando preferência a tecnologias mais eficientes, como sistemas de gotejamento; (vi) práticas de conservação do solo, que melhoram suas propriedades e a infiltração de água, consequentemente, elevando os níveis dos lençóis freáticos; entre outras.

Reforçando o link entre mudanças climáticas e segurança hídrica, muitas dessas práticas também estão alinhadas aos desafios de mitigação e adaptação destacados no 6º relatório do IPCC. Conforme mensurado no Programa Carbono, do Pilar de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Cecafé, a adoção de práticas conservacionistas, que melhoram as características físicas, químicas e biológicas do solo, incluindo a preservação da umidade, resultam em um balanço negativo de carbono das lavouras cafeeiras.

A etapa do Programa desenvolvida em Minas Gerais teve como objetivo mensurar o impacto da transição de práticas convencionais em fazendas de café para aquelas que aportam mais matéria orgânica no solo e o mantém sob cobertura vegetal, gerando benefícios associados à agricultura regenerativa. Os resultados da pesquisa, que contou com a condução científica do Prof. Carlos Cerri (Esalq/Usp) e do Imaflora, destaca a magnitude do serviço ambiental associado aos cafés do Brasil, pois foi obtido um balanço negativo de carbono da ordem de 10,5 t CO2eq/ha de café cultivado.

Dando continuidade a este Programa, no mês de março, o Cecafé iniciou a etapa que será desenvolvida no Estado do Espírito Santo, com o objetivo de avaliar os impactos ambientais da adoção das boas práticas agrícolas e das melhores tecnologias em lavouras de café conilon representativas das principais regiões produtoras capixabas. Além disso, este projeto mensurará a adição de carbono decorrente da mudança de uso do solo para o cultivo do café conilon. Os resultados desta pesquisa, que também é conduzida cientificamente pelo Prof. Cerri e o Imaflora, estarão disponíveis a partir do final deste ano.

Com o respaldo da ciência, o segmento exportador de café do Brasil, representado pelo Cecafé, tem a missão de gerar informações de credibilidade sobre a sustentabilidade da cafeicultura brasileira, alinhada aos principais desafios globais, além de apoiar a melhoria contínua da adoção dos critérios de governança socioambiental (ESG) ao longo da cadeia produtiva do café brasileiro.

[1] https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2023/03/Doc4_Approved_AR6_SYR_SPM.pdf

[2] Para mais informações, acesse https://www.produtorinformado.com.br/

Marcos Matos
Diretor Geral do Cecafé

Silvia Pizzol
Gestora de RSS do Cecafé