ESG se fortalece como estratégia de acesso a mercados e os Cafés do Brasil estão bem-posicionados para se destacarem nessa tendência.

O cenário do comércio internacional de produtos do agronegócio, ainda impactado pelas consequências da pandemia de Covid-19 e conflito entre Rússia e Ucrânia, torna-se cada vez mais desafiador. Em meio à preocupação com a crise climática global e, mesmo diante das incertezas relacionadas à segurança alimentar, riscos geopolíticos e de recessão global, a governança socioambiental (ESG) vêm se fortalecendo como fator de competitividade e acesso a mercados.

Uma recente pesquisa da KPMG International[1] levantou as perspectivas e estratégias de 1.325 CEOs globais em 11 mercados para o futuro dos seus negócios, nos próximos três anos. Em relação à governança socioambiental (ESG), é crescente o número de CEOs que concordam com seu impacto positivo no desempenho financeiro dos negócios (45% dos CEOs ante os 37% de 2021).

Além disso, a estratégia número um que os CEOs estão considerando para mitigar os problemas da cadeia de suprimentos é monitorar mais profundamente as práticas ambientais, sociais e de governança de seus parceiros e fornecedores para melhor antecipar riscos à reputação das empresas. Em seus planos, essa estratégia está associada à transformação digital – 74% dizem que os investimentos estratégicos digitais e ESG de suas organizações estão intrinsecamente ligados.

Fonte: KPMG 2022 CEO Outlook

O objetivo é reportar para consumidores e investidores de onde se originam as matérias-primas utilizadas pelas empresas e o registro de conformidade aos direitos humanos e às regras ambientais por parte de seus fornecedores.

Embora exista o reconhecimento de que o ESG é parte integrante do sucesso financeiro a longo prazo das empresas, os riscos de uma recessão global tendem a desacelerar parte dos planos nessa área. Os resultados da pesquisa apontam que 50% dos CEOs estão pausando ou reconsiderando seus esforços ESG existentes ou planejados nos próximos seis meses e 34% deles já fez isso.

O relatório da KPMG adverte que atrasar os principais esforços ESG pode fazer com que as empresas se tornem mais reativas no futuro, em vez de ajudá-las a liderar um mercado com maior transparência, resiliência e sustentabilidade.

Nesse contexto, o Brasil, como principal fornecedor mundial de café, está bem-posicionado no que tange às vantagens competitivas relacionadas à governança socioambiental. Os cafés do Brasil são um case de sucesso quanto à sustentabilidade, pois evoluem com base na ciência e com o suporte de uma cadeia produtiva organizada, voltada ao comércio exportador. Tal combinação se traduziu em inegáveis ganhos de competitividade, como o significativo salto de produtividade da cafeicultura brasileira, passando de 9 sacas/ha, nos anos 90, para aproximadamente 30 sacas/ha atualmente.

Ou seja, há eficiência produtiva no Brasil, fruto de uma intensificação sustentável que racionaliza recursos e viabiliza a conservação ambiental. De acordo com estudo realizado pela Embrapa Territorial, a partir dos dados do CAR, existem 43,9 milhões de hectares de vegetação nativa preservados dentro dos imóveis rurais dos principais estados produtores de café do país.

Aliando uma produção eficiente à conservação ambiental, o Brasil segue na liderança do comércio mundial do café, exportando para mais de 120 destinos, gerando receita cambial da ordem de US$ 8 bilhões e, consequentemente, desenvolvimento à nação. Em Minas Gerais, por exemplo, principal Estado produtor de café, quanto maior a área cultivada do produto, mais elevado é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e sempre acima da média estadual.

Média do IDHM de municípios mineiros agrupados de acordo com a área cultivada com café


Fontes: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil e PAM/IBGE

Atuando com proatividade frente aos novos desafios do comércio global, o Cecafé vem desenvolvendo projetos e se engajando em ações coletivas, tanto para divulgar a sustentabilidade dos cafés do Brasil, como para promover sua melhoria contínua.

O compromisso com a transferência de princípios éticos e de respeito à rígida legislação brasileira à cadeia de fornecimento está expresso no Código de Ética e Conduta do Cecafé, que se estende aos membros associados, reforçando a Governança no âmbito das práticas ESG.

Na dimensão ambiental, onde as mudanças climáticas e compromissos com redução de emissões de gases de efeito estufa são preocupações predominantes, o Cecafé demonstrou ao mundo que a cafeicultura brasileira é sustentável porque mais sequestra do que emite carbono. A pesquisa científica, conduzida pelo Imaflora e pelo prof. Carlos Eduardo Cerri, da Esalq/USP, também denota o potencial de conexão com o mercado de carbono, pois, com a adoção de práticas “descarbonizantes”, é alcançada uma adicionalidade de -3,79 toneladas de CO2eq por tonelada de café verde produzida.

Para fortalecer as boas práticas ambientais e sociais, o Cecafé une esforços com seus associados e entidades parceiras para promover o uso responsável de agroquímicos e o bem-estar social nas comunidades cafeeiras. Uma importante ação decorrente dessa iniciativa será a modernização do programa “Produtor Informado” da entidade, levando inclusão digital, conhecimento e, consequentemente, mais competitividade para os cafeicultores.

O setor exportador de café está atento aos desafios globais e agindo com proatividade para integrar cada vez mais práticas ESG à cadeia de fornecimento. Aliando produção de qualidade, conservação ambiental, rígidas regras sociais, ciência e inovação, o Brasil se mantém na liderança do comércio global de café, abastecendo mais de um terço das xícaras da bebida consumidas no mundo, com qualidade e sustentabilidade.

[1] https://assets.kpmg/content/dam/kpmg/xx/pdf/2022/10/ceo-outlook-report.pdf

Marcos Matos
Diretor Geral do Cecafé

Silvia Pizzol
Gestora de RSS do Cecafé