Segmento exportador de café desenvolve projetos e participa de iniciativas governamentais voltadas à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas

Ao assumir a presidência rotativa do G20 (Grupo dos 20), em dezembro de 2023, o Brasil anunciou que pautaria a agenda das mudanças climáticas como uma das prioridades deste fórum de cooperação econômica, alinhada ao objetivo de inclusão social, com combate à fome e à pobreza.

Para executar esta agenda, uma série de eventos oficiais do G20 serão realizados no Brasil, sendo que, em 26 e 27 de fevereiro, ocorreu o 1° Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas, que discutiu desafios e oportunidades para o impulsionamento da oferta de recursos financeiros e técnicos para programas direcionados à mitigação e à adaptação aos efeitos das mudanças climáticas.

Entre as áreas elegíveis a esses investimentos está a agricultura climaticamente inteligente, incluída no Plano de Transformação Ecológica (PTE) lançado pelo governo brasileiro na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28) e discutido no 1° Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas.

O PTE engloba políticas já estruturadas no Brasil, como o Plano Safra e suas iniciativas de fomento à sustentabilidade, no âmbito do programa de agricultura de baixo carbono, que, em sua edição 2023/24, incluiu taxas de juros reduzidas para recuperação de pastagens e premiação a produtores rurais que adotem práticas agropecuárias sustentáveis. Além disso, endereça medidas em discussão no Congresso Nacional para o financiamento climático, como o mercado regulado de carbono.

Também como parte da estratégia da presidência brasileira do G20, foi lançada a “G20’s Task Force on a Global Mobilization Against Climate Change (TF-Clima)1”, cuja primeira reunião ocorreu no início de março com o objetivo de aprofundar discussões técnicas multilaterais, visando maior integração da mudança do clima na agenda econômica internacional, incluindo, ainda, debates sobre os instrumentos financeiros para apoiar as transições necessárias para que o aumento da temperatura global seja limitado em 1,5°C neste século.

A TF-Clima deverá se reunir quatro vezes ao longo de 2024 e seus resultados serão apresentados em outubro, em Washington (EUA), na reunião de Ministros das Finanças e do Clima do G20. Os trabalhos da TF-Clima fazem parte da estratégia brasileira para pavimentar o caminho para que a COP-30, que será realizada em Belém, em 2025, seja bem-sucedida.

A agricultura exerce um papel de destaque na promoção das reduções das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e no aumento do sequestro de carbono no solo, ao mesmo tempo que é uma atividade econômica fundamental para garantir a segurança alimentar global. Até a realização da COP-30, haverá um longo caminho de debates para avançar no consenso dos entendimentos sobre o que são sistemas agroalimentares resilientes aos efeitos das mudanças climáticas, que promovem redução das emissões de GEE e elegíveis ao financiamento climático.

1 https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/03/04/brasil-lanca-forca-tarefa-de-clima-no-g20.ghtml

Conforme destacado no artigo de Rodrigo Lima “Agricultura e sistemas alimentares na COP 282” , durante a última Conferência não foi possível chegar a uma decisão no âmbito do “Trabalho Conjunto de Sharm el-Sheikh para implementação de ação climática nos sistemas agrícolas e segurança alimentar”. O autor também destaca que a agricultura regenerativa vem sendo apontada como uma solução, já que solos saudáveis são a base de sistemas produtivos resilientes e viáveis no longo prazo.

No âmbito da cafeicultura, os debates sobre a inclusão de práticas de agricultura regenerativa nos sistemas produtivos de café têm sido crescentes, impulsionados principalmente pelas agendas das grandes multinacionais do setor agroalimentar. Atentas à crescente demanda dos consumidores por alimentos e bebidas saudáveis e sustentáveis e aos riscos ao abastecimento de matérias-primas devido às irregularidades climáticas, essas corporações estão aderindo à agricultura regenerativa como estratégia de sustentabilidade.

O segmento exportador de café tem participado ativamente desses debates e investido na produção de estudos científicos para mensurar impactos de práticas de agricultura regenerativa, já adotadas em muitos sistemas produtivos de café do Brasil, na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Como exemplo, cabe citar o recente estudo promovido pelo Cecafé, com condução científica do professor Carlos Cerri, da Esalq/Usp, e do Imaflora, que avaliou o impacto da transição de práticas convencionais em fazendas de café para aquelas que aportam mais matéria orgânica no solo e mantém este sob cobertura vegetal. O resultado destaca a magnitude do serviço ambiental associado aos cafés do Brasil, pois foi obtido um balanço negativo de carbono da ordem de 10,5 t CO2eq/ha de café cultivado. Agora, pesquisa
semelhante está sendo promovida pelo Cecafé na cafeicultura de conilon do Estado do Espírito Santo.

2 https://agroicone.com.br/wp-content/uploads/2024/01/Artigo-Broadcast-Agro-Fevereiro-2024.pdf

 

Alinhado à pauta do financiamento climático, em voga nas agendas de reuniões do G20 promovidas pelo Brasil, o Cecafé vem construindo uma parceria com a StoneX e a Allcot, desde o início de 2023, com a realização de alguns estudos prévios, que agora serão aprofundados para mensurar mais detalhadamente as oportunidades e desafios existentes nas dimensões técnica, jurídica e econômica para o desenvolvimento de um programa agrupado de créditos de carbono na cafeicultura brasileira.

Contribuindo para as discussões no âmbito da agenda governamental, o Cecafé é membro da Câmara Temática de Agrocarbono Sustentável do Conselho Nacional de Política Agrícola (CNPA), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Este fórum tem o objetivo de construir políticas para a promoção da segurança alimentar via um agronegócio produtivo, ambientalmente responsável e climaticamente eficiente.

Em sua primeira reunião, realizada no início de março, foram deliberados os principais temas que serão trabalhados ao longo de 2024, organizados em grupos de trabalho: GT Taxonomia; GT Rastreabilidade; GT Mercado de Carbono; e GT Investidores.

Participando dos principais fóruns globais e nacionais, viabilizando o acesso a tecnologias de monitoramento socioambiental, fomentando estudos científicos e capacitações, o segmento exportador de café, representado pelo Cecafé, age com proatividade para integrar cada vez mais práticas ESG à cadeia de fornecimento.

 

Marcos Matos
Diretor Geral do CECAFÉ

Silvia Pizzol
Gestora de Sustentabilidade do CECAFÉ