O segmento exportador de cafés do Brasil está cada vez mais atento aos acrônimos que influenciam os fluxos de investimentos e de comércio. ESG (Ambiental, Social e Governança, em português) e ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) possuem significados diferentes, mas se complementam e crescem em importância como direcionadores de crédito, investimento e demanda.

 ESG orienta e mede o desempenho das empresas nas áreas ambiental, social e de governança. Já os ODS são os 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis definidos pela ONU, que abordam questões sociais, econômicas e de parcerias em suas 169 metas, com foco nos desafios mais críticos para a humanidade.

O alinhamento entre os ODS e as estratégias dos setores econômicos é alcançado quando os atores envolvidos adotam as melhores práticas ESG. Tal condição tende a ser cada vez mais valorizada nos principais mercados importadores do café brasileiro, a exemplo da União Europeia, e na tomada de decisão para a alocação de investimentos e concessão de crédito às atividades econômicas.

O mercado ESG é crescente. Atualmente, o valor dos ativos sob gestão (AuM, em inglês), gerenciados no mundo por fundos com estratégias sustentáveis, é da ordem de US$ 35,3 trilhões, ou 36% do AuM total, segundo a XP Investimentos.

No Brasil, são crescentes os investimentos em projetos com compromissos alinhados às metas globais de sustentabilidade, consolidando o país como o maior mercado de títulos verdes da América Latina.

Segundo um recente relatório da Climate Bond Iniciative¹ , o valor acumulado das transações brasileiras desses títulos, desde 2015, é de US$ 10,3 bilhões, representando 34% do mercado latino-americano (US$ 30,2 bilhões).

O agronegócio brasileiro e os setores de energia renovável e infraestrutura são os campeões de emissões de títulos verdes. Somando a esse mercado, a Cédula de Produto Rural (CPR) Verde foi lançada no início de outubro. O título conecta investidores interessados em serviços ambientais, como a conservação de florestas, biodiversidade, sequestro de carbono, entre outros, aos proprietários rurais que os prestam, garantindo sua merecida remuneração.

São positivas as perspectivas de crescimento do mercado de títulos verdes, frente à tendência de gastos governamentais com agricultura, infraestrutura e a sinalização do Tesouro Nacional de construção de um arcabouço regulatório para a emissão de títulos soberanos alinhados a critérios ESG.

Do lado da concessão do crédito rural oficial, o ESG também ganha força, conforme demonstra a agenda de sustentabilidade do Banco Central, publicada em setembro. A nova regulação de finanças sustentáveis busca estimular maior alinhamento do agronegócio às melhores práticas internacionais, reforçando os impedimentos para a contratação do crédito rural por questões ambientais, climáticas e sociais, já endereçadas pela rígida legislação nacional.

Atento a essas tendências, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) atua de forma pré-competitiva, com parceiros estratégicos, para o desenvolvimento de projetos alinhados a critérios ESG. O objetivo é fortalecer e ampliar a consciência sobre as contribuições da cafeicultura brasileira para o alcance dos ODS.

Entre as várias ações conectadas a metas sustentáveis, merecem destaque os projetos Cafeicultura de Baixo Carbono; Bem-estar Social na Cafeicultura; Produtor Informado; e Criança do Café na Escola, respectivamente alinhadas aos ODS 13 (Ação contra a Mudança Global do Clima); 8 (Trabalho Descente e Crescimento Econômico); 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável); e 4 (Educação de Qualidade).

Divulgar indicadores, que mostram a conexão da cafeicultura brasileira às metas sustentáveis, aos consumidores internacionais é uma agenda prioritária do Conselho. Comemorando o Dia Internacional do Café, em 1º de outubro, o Cecafé expôs, nos maiores mercados importadores dos grãos nacionais, os elevados índices de preservação da vegetação nativa dentro das fazendas cafeeiras e a correlação muito positiva entre desenvolvimento humano nos municípios produtores e a área cultivada com café.

Esses indicadores positivos são consequência de uma cadeia produtiva organizada e altamente especializada na atividade exportadora, que gera receita e desenvolvimento nas regiões produtoras.

Os processos logísticos eficientes permitem o alcance de uma das mais elevadas transferências do preço Free on Board (FOB) aos produtores e a estrutura comercial avançada é fundamental para a resiliência a choques externos e climáticos.

O resultado é o alinhamento entre a produção, a preservação ambiental e o desenvolvimento humano, conectando os cafés do Brasil às metas de desenvolvimento sustentável globais.

 

1 – https://www.climatebonds.net/files/reports/cbi_lac_2020_04e.pdf

 

Marcos Matos
Diretor Geral do CECAFÉ

Silvia Pizzol
Gestora de Sustentabilidade do CECAFÉ