Um dos serviços ambientais essenciais prestados ao ecossistema é o serviço dos polinizadores. A polinização por vetores é um serviço extremamente valioso para o ecossistema permitindo o transporte de pólen e consiste na transferência do pólen da parte masculina da flor (antera) para a parte feminina (estigma).

A polinização representa o processo reprodutivo dos vegetais superiores. É através dela que ocorre a fecundação e consequentemente, a formação de frutos e sementes que irão originar novas plantas. Ela pode ser realizada por diversos agentes polinizadores, entre eles: aves, abelhas, borboletas, vespas, e outros seres vivos que visitam flores como fonte de alimento ou que as acessam pela proximidade com o habitat natural.

O serviço ambiental da polinização traz inúmeros benefícios, através do seu papel na produção de alimentos e da agricultura, como também desenvolvimento científico, cultura e recreação, e na conservação da diversidade biológica.

A polinização é essencial para a reprodução sexuada das plantas e, na sua ausência, a manutenção da variabilidade genética entre os vegetais não ocorre. Com frequência, a produção agrícola é diminuída ou os frutos são deformados (resultado da polinização insuficiente) e não do uso não suficiente de insumos agroquímicos. Pensando em sistemas naturais, a visualização de polinização insuficiente é bem mais sutil do que em sistemas agrícolas, mas as consequências podem ser bastante severas como a extinção de um organismo herbáceo, ou um declínio visível de animais que se alimentam de frutos e sementes, ou a fraca regeneração da flora, entre inúmeros outros.

Em termos de importância ecológica, os insetos polinizadores podem ser entendidos como os principais responsáveis pelo suporte e obtenção de várias culturas agrícolas, contribuindo para o au¬mento da diversidade genética da flora, desenvolvimento de sementes, aumento da produção e melhoramento das propriedades e características físicas dos alimentos produzidos. Aproximadamente 90 % das espécies de flores em todo o mundo es¬tão dependentes da polinização biótica para reprodução e manutenção da variabilidade genética.

A polinização é considerada de extrema importância para a manutenção da biodiversidade e para nossa própria sobrevivência. No caso do Brasil, considerando 141 culturas agrícolas, 85 delas dependem de polinizadores. Caso acontecesse o desaparecimento dos polinizadores, somente culturas que tem polinização abiótica conseguiriam continuar produzindo, ou seja, arroz, soja, milho, entre outros. Ou seja, a produção e a disponibilidade de alimentos ficariam terrivelmente comprometidas. Portanto, é preciso ficar muito atento. A ausência dos polinizadores acarretaria numa série de impactos negativos no ambiente e consequentemente na produção de alimentos.

Ao sermos indagados sobre polinizadores para a agricultura, as abelhas são os primeiros animais que nos recordamos e a mais conhecida e popular delas é a Apis mellifera, atualmente distribuída em todos os continentes, mas existem muitos outros polinizadores silvestres, inclusive no Brasil temos uma diversidade biológica imensa desses insetos sociais.

Diversas cultivos agrícolas podem ser citados como dependentes da polinização biótica: as macieiras, o açaizeiro, a aceroleira, o maracujazeiro, a castanha do Brasil, que precisam das abelhas para produzir os seus frutos perfeitos. Para o caso do café, da canola, da soja, do morangueiro, do tomateiro, entre outras culturas agrícolas, a polinização não é obrigatória, mas a produtividade das culturas é muito maior na presença de polinizadores. Segundo os pesquisadores da área interação polinizadores e agricultura, os frutos polinizados têm mais sementes, maior homogeneidade de frutos, formato mais uniforme, maior valor nutritivo e vida de prateleira mais longa.

Em se tratando de café, estudos conduzidos pela Rede de Pesquisa para conservação e Manejo Sustentável de Polinizadores, coordenado pela professora Blandina Viana, da Universidade Federal da Bahia, demonstram que uma maior quantidade de abelhas na cultura, pode ocorrer um aumento na rentabilidade dos produtores em até 30%, além de trazer outros benefícios

, como uniformidade de grãos. Nestes estudos desenvolvidos na Chapada Diamantina, houve evidências que apenas uma visita da abelha Apis mellifera nas flores de café é suficiente para depositar grãos de pólen nos estigmas das flores, que produzirão frutos mais pesados e de melhor qualidade. Já as flores não visitadas por essas abelhas, produzem frutos com tamanho e peso mais variáveis (grandes e pequenos), o que diminui a produtividade média. Nos locais onde há maior variedade de ambientes, com proporções similares de agricultura e vegetação natural, há maior diversidade de recursos como alimento e abrigo. Nesses locais foram encontradas mais espécies de abelhas visitando as flores.

O Cecafé vem estudando propostas de desenvolvimento de diversas parcerias na área de projetos de proteção aos polinizadores e convivência harmoniosa entre apicultura e agricultura.

 

Marcos Matos – Diretor Geral do CECAFÉ
Lilian Vendrametto – Gestora de Sustentabilidade do CECAFÉ