No mês de novembro aconteceu em Marrakesh, Marrocos, a 22ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. O evento contou com a presença de 60 chefes de Estado. A conferência é uma continuação das reuniões globais para adaptação do Protocolo de Kyoto para os dias atuais, uma vez que as diretrizes do protocolo tiveram validade até 2012 somente. Em 2015, 192 países assinaram o primeiro acordo global sobre o clima na reunião de Paris. O tratado visa limitar em até 2ºC o aumento da temperatura da Terra.

De acordo com o relatório mais recente do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), as emissões de carbono do mundo aumentam todos os anos. Em 2014 emitimos aproximadamente 52,7 bilhões de toneladas, emissões essas impulsionadas pela expansão da China e da Índia, além de outros países em desenvolvimento.

Enquanto isso, as temperaturas do globo continuam subindo e alcançando valores nunca registrados: 2015 foi o mais quente desde o início dos registros, no século 19. Segundo estudo publicado em novembro pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), 2016 provavelmente superará o recorde de 2015 e será o ano mais quente da história.

O objetivo da COP 22 em Marrocos é definir sob quais termos o Acordo de Paris será aplicado, assim como estabelecer um calendário para as negociações. Nesse sentido, é importante a posição do Brasil de que os compromissos assumidos com relação à sustentabilidade devam ser reconhecidos como um ativo para o país, contribuindo para as negociações comerciais e investimentos estrangeiros.

De acordo com a Embrapa, 32,4% do território nacional é ocupado por culturas perenes, sendo 3,4% a área plantada de café. O nosso desafio é continuar nossa produção, mantendo nossos 61% de vegetação nativa conservada. No entanto, a previsão de que as áreas de cultivo serão diminuídas acontece ao mesmo tempo em que o consumo mundial de café aumenta.

A preocupação mundial com as questões climáticas está cada vez mais recorrente, e as consequências do aquecimento global podem ser devastadoras, especialmente para a agricultura. Para continuarmos produzindo e atendendo a demanda por alimento, precisaremos dar atenção especial a essas questões, assim como o resto do mundo tem feito.

Para a cafeicultura, os efeitos podem incluir, além da diminuição das áreas de cultivos, perdas de grandes safras. Dados do relatório da ONU sobre mudanças climáticas apontam que a combinação de altas temperaturas e escassez de recursos hídricos diminuiria consideravelmente o cultivo do grão nos principais Estados produtores no Brasil, como Minas Gerais e São Paulo.

Diante desse cenário, é muito importante que tenhamos políticas globais bem estruturadas com objetivos de curto, médio e longo prazo e que incentivem a pesquisa agropecuária e a adoção de boas práticas. Por isso, cientistas, produtores e empresas têm se dedicado para implantar novas tecnologias que promovam uma produção em bases cada vez mais sustentáveis.

Um exemplo de sucesso é o desenvolvimento de três novas espécies de café Conilon pelo Governo do Espírito Santo. O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em parceria com a Embrapa Café, criou as novas variedades que estimulam o novo ciclo da cafeicultura do estado, pois possuem melhores características e maior rendimento em termos de produtividade. Isso contribui com o desenvolvimento sustentável e equilibrado e com a melhoria na qualidade de vida dos produtores. A Embrapa também fez um trabalho semelhante em Rondônia, com criação da cultivar BRS, cuja composição consiste em 15 clones compatíveis com características superiores e com alta produtividade. A variação também resiste melhor a estresses climáticos.

No que diz respeito à produtividade, em 1976 o Brasil produzia 5,59 sacas por hectare. Em 2016 nós produzimos 25,5 sacas por hectare. Em comparação, se continuássemos com as mesmas bases tecnológicas dos anos 70, seriam necessários quase 9 milhões de hectares para produzirmos as 50 milhões de sacas da nossa safra atual nacional.

Por esse motivo, pesquisa e desenvolvimento são fundamentais para a sustentabilidade do café. No Programa Produtor Informado, por exemplo, parceria do Cecafé com a Plataforma Global do Café, produtores rurais recebem treinamentos para estabelecer uma cultura mais sustentável, aumentar a sua produtividade, ter maior qualidade em seu produto e, por fim, aumentar sua renda.

Essas capacitações ajudam a aumentar a perenidade de produção. Dentre as práticas ensinadas no curso destacam-se: gestão das máquinas utilizadas na propriedade com o intuito de prevenir a emissão de poluentes por equipamentos desajustados, preservação das áreas de florestas, prevenção do desmate e recuperação de áreas eventualmente degradadas, prevenção de incêndios florestais e gestão correta de resíduos sólidos.

Todas essas iniciativas citadas acima ajudam a cumprir os termos propostos na reunião em Marrakesh, mostrando que o setor cafeeiro também está preocupado em contribuir para um meio ambiente melhor. E você, como aplica essa temática no dia a dia?

 

Marjorie Miranda – Coordenadora dos programas de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Cecafé