O consumo tende a crescer cerca de 2% ao ano, sem considerar novos mercados consumidores na Ásia

Nelson Carvalhaes*, O Estado de S.Paulo

O agronegócio do café, representado pelos segmentos da produção, indústria e exportação, tendo como alicerce a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação, é motivo de orgulho nacional, tanto no mercado interno quanto no mercado mundial. Estima-se que o setor fechará o ano de 2018 registrando um número total entre 33 milhões e 34 milhões de sacas de 60 kg vendidas para o exterior (verde e solúvel), acima dos 31 milhões do ano passado. Para ter uma ideia, o consumo mundial corresponde a cerca de 2 bilhões de xícaras de café diárias e o Brasil consome 1/3 disso, devendo chegar a 22 milhões de sacas, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), totalizando uma demanda de 55 milhões de sacas.

Mas o País tem um grande desafio: o consumo tende a crescer cerca de 2% ao ano, sem considerar mercados que estão despontando como futuros novos players de consumo na Ásia, como China e Índia, entre outros, uma vez que o sabor do café brasileiro vem conquistando cada vez mais o paladar da população desses países.

Diante de tais projeções, o Brasil deverá produzir cerca de 20% a mais nos próximos dez anos apenas para manter seu market share nas exportações. Mas, para expandir a participação do Brasil no mercado internacional, esse incremento na produção deverá ser ainda maior, e sempre focado na manutenção da cadeia produtiva sustentável no âmbito ambiental, social e econômico.

Para encarar esses desafios, o Brasil tem praticamente tudo o que é necessário, mas é preciso muito mais para acompanhar o crescimento do mercado.

No quesito eficiência e tecnologia, vale destacar que hoje a área cultivada é 51% menor em comparação a 1960, considerando o atual parque cafeeiro de 2,2 milhões de hectares. Nesse período, a produtividade média dos cafezais brasileiros saltou de 6,4 sacas por hectare para 29 sacas na safra 2018/2019, um incremento de 351%.

Para ter a magnitude da eficiência no uso dos recursos naturais, se mantivéssemos as bases tecnológicas dos anos 60, seriam necessários cerca de 9 milhões de hectares para a atual produção brasileira de café.

De acordo com os dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017, apresentados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ser um cafeicultor brasileiro é também um bom negócio. Atualmente o café é produzido em 307,8 mil estabelecimentos, um aumento de 7,3%, na comparação com o Censo 2006, quando foram registrados 286,7 mil estabelecimentos.

Mesmo com esse avanço expressivo, ainda há muito espaço para expandir as exportações e estimular o crescimento do consumo interno. É fundamental, a propósito, que o próximo governo tenha como uma de suas prioridades consolidar a credibilidade macroeconômica do Brasil no mercado mundial, equilibrando a economia, reduzindo índices de desemprego e de inflação.

Em relação ao café, mercado em que somos líderes, é essencial o investimento em três grandes frentes para que o Brasil consiga atender à crescente demanda mundial pelo café: na melhoria da logística, com redução de taxas, custos portuários e de frete, que influenciam o custo de exportação, bem como melhoria do escoamento da safra; em pesquisa e desenvolvimento, para obter mais eficiência, inovação e variedades do produto, pois o País conta com centros e universidades que precisam de recursos; e, por fim, em tecnologia, máquinas e equipamentos que podem ser aprimorados para processos de armazenagem e preparo dos cafés.

O Brasil é protagonista em exportação, consumo e produção de café, e, se a agenda do próximo governo contemplar esses investimentos, que incluem também a sustentabilidade, a infraestrutura logística e a comunicação, o café se fortalecerá ainda mais como orgulho nacional, e somente fatores climáticos não favoráveis poderiam desequilibrar este cenário sólido e promissor.

*PRESIDENTE DO CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL (CECAFÉ)