Representantes da indústria acreditam que tratado assinado nesta sexta-feira fortalece presença brasileira no bloco

Por Raphael Salomão

Revista Globo Rural — Exportadores de café avaliaram de forma positiva o fechamento do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, assinado nesta sexta-feira (28/6), em Bruxelas, por representantes dos dois blocos. Para representantes do setor, o acordo fortalece a marca Cafés do Brasil no bloco, que é um dos maiores consumidores mundiais e um dos principais destinos do produto brasileiro.

“Fortalece o marca Brasil, aumenta laços, incrementa parcerias. Para nós é motivo de satisfação”, afirmou o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), Nelson Carvalhaes. “O Brasil volta a ser inserido na política de acordos internacionais de uma maneira inteligente, produtiva”, acrescentou.

Atualmente, o maior consumidor mundial de café são os Estados Unidos, seguidos pelo Brasil. De acordo com o CeCafé, dos dez principais destinos do café brasileiro, seis são países da Europa, liderados por Alemanha, Itália e Bélgica. Além deles, estão Reino Unido, em processo de saída do bloco, França e Turquia, que não integra o bloco.

Na visão do Conselho, o Brasil tende a atender mais o mercado da União Europeia, cliente de longa data do produto brasileiro. A exigência de qualidade do bloco é cada vez maior e a cadeia produtiva brasileira tem condições de atender o mercado europeu com produto de qualidade.

“O café brasileiro já é muito bem posicionado na comunidade europeia. Tem rastreabilidade, é sustentável. Temos leis ambientais e sociais severas, com resultado econômico positivo”, disse Carvalhaes. “Ter um acordo com alguém que já é um parceiro de fato fortalece e ajuda muito”, acrescentou o executivo.

Ganho de mercado
Para o segmento de café solúvel, o acordo entre Mercosul e União Europeia tende a representar a recuperação de um espaço perdido por problemas de competitividade, explica diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria  de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo José de Lima. A depender do desempenho do ano, o mercado europeu alterna entre o segundo e o terceiro lugar no ranking de destinos do produto brasileiro.

Lima explica que, até pelo menos dez anos atrás, o café solúvel brasileiro fazia parte do Sistema Geral de Preferências da União Europeia. Mas foi retirado e passou a fazer parte de uma cota de importação, substituída posteriormente por uma tarifa de 9%, em vigor até hoje.

“Mesmo com a tarifa, o Brasil se torna competitivo, mas, ao longo do tempo, estávamos perdendo share porque competíamos com a indústria da própria União Europeia, com tarifa zero, e concorrentes como Vietnã e Índia, que têm vantagens logísticas e tarifas menores”, explicou o executivo.

Segundo o diretor da Abics, as novas regras preveem uma redução gradual dessa tarifa de importação por um prazo de quatro anos. A partir do quinto, o café solúvel brasileiro passa a ser livre de taxa. Na avaliação de Aguinaldo Lima, ao mesmo tempo em que a tarifa cai, a participação no mercado europeu tende a aumentar, podendo elevar em pelo menos 30% os volumes exportados para o bloco.

“Essa perspectiva de redução da tarifa nos dá uma condição de competitividade. A redução gradual da tarifa tende a trazer mais participação de mercado. Deixamos de perder espaço e passamos a ganhar”, diz Lima.

De acordo com a Associação, o Brasil exportou em 2018 o equivalente a 470 mil sacas de 60 quilos em café solúvel para a União Europeia, que geraram uma receita de US$ 72 milhões. Os embarques totais do produto brasileiro no ano passado foram equivalente a 3,7 milhões de sacas, com uma receita de US$ 600 milhões.

Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), informou que ainda avalia os possíveis efeitos do acordo entre Mercosul e União Europeia.