Recentemente, a geopolítica está no foco dos debates e manifestações domésticas e internacionais.
Trata-se de um termo utilizado para designar as relações e disputas de poder entre países, conflitos diplomáticos, políticos e territoriais, evolução histórica do ordenamento político do espaço mundial, articulação e atuação das organizações internacionais e blocos econômicos.
De grande importância para a análise das relações internacionais e do ordenamento territorial em diversas escalas, a geopolítica permite desenvolver uma visão crítica acerca do passado histórico e, principalmente, dos acontecimentos atuais, além de possibilitar o desenvolvimento de uma visão crítica acerca de eventos atuais.

Holding the Brazilian flag in the wind.
Como destaque, o anúncio de novas tarifas sobre produtos importados pelo governo de Donald Trump, presidente dos EUA, tem gerado preocupações sobre os impactos na economia americana e global.
Com o aumento das tarifas, grandes bancos estão revisando suas projeções e elevando o risco de uma recessão nos Estados Unidos, o que tem gerado queda abrupta nas bolsas internacionais, provocando retaliações ao redor do mundo.
Além disso, a Organização Mundial do Comércio (OMC) projeta que o aumento das tarifas americanas reduzirá em 1% o comércio mundial em 2025.
Nesse sentido, a percepção é que, entre ganhos e perdas, o saldo tende a ser negativo devido à maior incerteza global e aos riscos para o crescimento econômico mundial, o que teria impacto sobre a atividade econômica brasileira.
De acordo com diversos analistas, países emergentes como o Brasil e seus setores como indústria aeronáutica, frigorífico e agronegócio podem ser afetados pela possível redução da demanda americana.
Soma-se a isso as novas regras ao fluxo do comércio estabelecidas nos últimos anos, com foco em critérios de governança socioambiental, que estiveram no centro dos debates e ações domésticas e internacionais.
Com origem na União Europeia (UE), mercado que absorve cerca de 50% das exportações brasileiras de café, as novas legislações aprovadas geram efeitos ao longo das cadeias de fornecimento das empresas do bloco, com impactos nos países produtores
de commodities agrícolas, incluindo as regiões cafeeiras do Brasil.
Entre essas novas regras estão o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), de 2023, a Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa (CS3D) e o Regulamento que proíbe bens produzidos com trabalho forçado, ambos aprovados em 2024, mas com implementação prevista a partir de 2027, entre outras regulações que fazem parte do Pacto Verde.
O Brasil é líder no mercado global de café, sendo maior produtor e exportador e segundo principal consumidor da bebida. Nesse sentido, o cenário apresentado é de risco ao negócio, o que demanda fortalecimento de estratégias unificadas do setor produtivo e poder público.
Os “Cafés do Brasil” têm como alicerce a sustentabilidade, a diversidade, a qualidade e a credibilidade. A sustentabilidade e a eficiência do setor cafeeiro nacional são demonstradas pelos dados do IPEP, índice que mede a transferência de preço Free on Board (FOB) da exportação aos cafeicultores, e pela análise do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que atesta a longevidade, a educação e a renda nas regiões produtoras, pelo balanço de carbono na atividade e cafeicultura regenerativa, entre outros.


De acordo com o IPEP/CECAFÉ, de 91% a 94% dos preços da exportação são compartilhados com os produtores de café arábica e conilon, respectivamente. O nível de eficiência do comércio exportador do Brasil resulta em renda sustentável ao cafeicultor brasileiro e maior resiliência frente aos desafios.


De acordo com a análise, há uma correlação positiva entre a área cultivada de café e o IDHM. Ou seja, quanto maior a área cafeeira no município, melhor o Índice de Desenvolvimento Humano.
Com o objetivo de promover transparência e eficiência no monitoramento do compliance socioambiental, em especial a avaliação de riscos de desmatamento ao longo da cadeia de fornecimento dos cafés nacionais demandada pelo EUDR, o Cecafé lançou a Plataforma de Monitoramento Socioambiental Cafés do Brasil, desenvolvida pela Serasa Experian e conduzida pelo Conselho, que já conta com 56 associados, englobando empresas nacionais, globais e cooperativas, que representam cerca de 99% das exportações do café brasileiro para a União Europeia.
Essa plataforma disponibiliza informações atualizadas de centenas de bancos de dados públicos e oficiais, que avaliam e monitoram questões socioambientais respaldadas pela legislação nacional de cerca de 260 mil cafeicultores, gerando evidências adequadas,
conclusivas e verificáveis para atender ao EUDR, com ênfase no artigo 9º da nova regra.
A ferramenta gera relatórios digitais e demais inputs para as plataformas dos importadores, que são os operadores do EUDR e responsáveis pelo preenchimento das Devidas Diligências e dos sistemas oficiais da União Europeia.
Ou seja, a atuação proativa do CECAFÉ e seus associados resultam em importante parceria, estratégias complementares e redução de riscos ao fluxo do comércio global de café. Somado a isso, o monitoramento apresenta os elementos técnicos e auditáveis que evidenciam um nível de risco insignificante ao desmatamento do café brasileiro que está sendo exportado para o bloco europeu.
Por esse motivo, a geopolítica global, a sustentabilidade da cadeia cafeeira, as novas regras ao fluxo do comércio, entre outros, serão temas de painéis específicos no 10º Coffee Dinner & Summit, um dos principais eventos da cafeicultura mundial, que o Cecafé realizará, de 2 a 4 de julho, no Royal Palm Hall, em Campinas (SP), para debater “O futuro do fluxo do comércio: protagonismo e liderança dos cafés do Brasil”.
A décima edição do Coffee Dinner & Summit vem sendo preparada com entusiasmo e primor, visando à reunião de diversos players do setor cafeeiro, nacional e internacional, para fomentar negócios, compartilhar experiências, fazer networking e aproximar os apaixonados por café em um novo ambiente, espaçoso e aconchegante. Mais informações no site: https://coffeedinner.com.br/.
Marcos Matos | Diretor Geral do CECAFÉ
Silvia Pizzol | Diretora de Sustentabilidade do CECAFÉ

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