A pedido da delegação asiática, entidade apresentou a realidade sustentável da cafeicultura brasileira e conheceu ideia de criação de contrato para café arábica na bolsa chinesa

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) recebeu, na segunda-feira, 22 de setembro, na sua sede, em São Paulo (SP), representantes chineses da bolsa The Guangzhou Futures Exchange (GFEX) e da empresa COFCO International para realizar, a pedido, uma apresentação sobre a realidade sustentável da cafeicultura brasileira e ouvir uma possibilidade de negócios no mercado de futuros.

Com base na agenda ESG do Cecafé, o diretor-geral Marcos Matos detalhou a realidade da cafeicultura brasileira em relação a produtividade, boas práticas agrícolas, qualidade e diversidade de regiões, sistemas produtivos, condições edafoclimáticas e atributos sensoriais nas quase 40 regiões produtoras existentes no país.

Ao recordar que, em 2024, o Brasil exportou o volume recorde de 50,5 milhões de sacas para mais de 120 países, com receita de US$ 12,5 bilhões, ele pontuou que os embarques são fruto de uma cafeicultura majoritariamente familiar, com cerca de 72% do número total de cafeicultores possuindo menos de 20 hectares, dentre os quais 78% acessam o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

“O Brasil tem trabalhado com afinco em leis ambientais e sociais rígidas, gerando mobilização nacional em torno do Código Florestal Brasileiro, que institucionalizou o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ou seja, a preservação ambiental está associada ao setor”, comenta Matos.

A opinião é referendada por dados da Embrapa, segundo a qual, nas regiões produtoras de café do país, 51.500 km² são constituídos por reservas legais (RL), florestas nativas e áreas de preservação permanente (APP) protegidas. “Essa é uma área 1,25 vez maior que o território da Suíça”, compara.

O diretor-geral também destacou a eficiência, a organização e a transparência na cadeia produtiva da cafeicultura nacional. De acordo com o Índice de Participação na Exportação do Produtor calculado pela entidade (IPEP Cecafé), que mede a transferência do preço Free on Board (FOB) dos embarques aos cafeicultores, o Brasil é um dos países que mais repassa o valor do produto exportado, a uma média anual superior a 90% em 2024, o que significa renda sustentável ao produtor.

“A cafeicultura desempenha um papel crucial na promoção da sustentabilidade e no desenvolvimento humano nas regiões produtoras. O cultivo do café influencia positivamente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – mensura escolaridade, renda e expectativa de vida – e gera divisas e empregos, além de impulsionar a economia local e nacional. De acordo com os dados do PNUD, as regiões com maior produção de café tendem a apresentar IDHs municipais mais elevados, indicando melhor qualidade de vida e desenvolvimento humano”, enaltece.

Por fim, Matos também expôs os dados positivos da cafeicultura brasileira em relação ao sequestro de carbono da atmosfera. Pesquisas conduzidas pelo professor Carlos Eduardo Cerri, da USP, e pelo Imaflora, patrocinadas pelo Cecafé e parceiros, atestou que o cultivo de café arábica e conilon com boas práticas agrícolas, em Minas Gerais e no Espírito Santo, respectivamente, apresentam balanço negativo, ou seja, mais removem carbono do que emitem gases de efeito estufa na atmosfera.

“Isto é, a cafeicultura brasileira é um importante ativo sustentável que, além de se preocupar com o social, com seus atores, gerando renda digna e melhores condições de vida, também atende às mais rigorosas legislações ambientais, sendo um importante ativo para a mitigação do aquecimento global por meio do sequestro de carbono, atendendo perfeitamente ao tripé do ESG por meio da governança socioambiental”, enaltece o diretor-geral do Cecafé.

Ainda no encontro realizado na sede da entidade, os representantes da bolsa The Guangzhou Futures Exchange apresentaram uma proposta para a criação de um contrato de café arábica em seu mercado de futuros. “A ideia é ter como base as referências da bolsa de Nova York, a Intercontinental Exchange (ICE) e apresentar-se como alternativa mercadológica. Essa possiblidade será mais bem debatida pelo setor exportador dos cafés do Brasil e voltará à pauta com os representantes da GFEX”, conclui Matos.