Programa de Carbono do Cecafé demonstra a capacidade da cafeicultura brasileira de atender à crescente demanda global por cafés sustentáveis

Os prejuízos decorrentes da mudança do clima têm sido reais nos últimos anos, com o aumento da frequência e da intensidade dos fenômenos meteorológicos extremos em diversas regiões do planeta.

De acordo com os debates mais recentes, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) do mundo aumentam todos
os anos, impulsionadas pela expansão da China e da Índia, além de outros países em desenvolvimento. Enquanto isso, as temperaturas do globo continuam subindo e alcançando valores nunca registrados.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o observatório Copernicus Climate Change Service, da
União Europeia (UE), 2023 foi o ano mais quente em relação à média do período pré-industrial, de 1850 a 1900, com alta de 0,17°C frente ao recorde anterior, registrado em 2016. No que se refere aos níveis pré-industriais, a média foi 1,48ºC acima, sendo esse o primeiro ano em que todos os dias ultrapassaram 1°C.

Com o objetivo de demonstrar que a cafeicultura brasileira é parte da solução desse problema global, o Cecafé, em
estreita colaboração com seus parceiros, e em sinergia com o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo da Seag/ES, concluiu mais uma etapa do seu Programa de Carbono, agora com foco na produção de café conilon.

Nesta etapa, foi desenvolvida a pesquisa “Balanço de Gases de Efeito Estufa do Café Conilon Capixaba”, que contou com a condução técnico-científica do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), da Geocarbon e do professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).

A pesquisa teve dois objetivos: (i) calcular os balanços de carbono da produção tradicional de café conilon e daquela que adota práticas mais sustentáveis, considerando pastagem como uso anterior do solo; e (ii) estimar a adicionalidade gerada pela alteração do manejo agrícola, partindo de um cenário de cultivo tradicional de café conilon para aquele que adota práticas mais conservacionistas, entre elas, o retorno dos resíduos de pós-colheita ao solo, a manutenção dos resíduos das podas nas lavouras, a prática de cobrir o solo na entrelinha do café, na fase inicial da lavoura, e a preferência por adubos orgânicos ou organominerais.

A definição do cenário base de uso da terra levou em consideração as discussões globais relacionadas à adaptação e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, às novas regras de comércio antidesmatamento e à garantia de segurança alimentar, reconhecendo o potencial da agricultura brasileira de atender à demanda crescente por alimentos, fibras e bebidas, entre elas o café, sem expandir a fronteira produtiva para áreas de vegetação nativa.

Para quantificar o sequestro de carbono, foram coletadas 22 situações de solo (até um metro de profundidade) – de acordo com metodologia reconhecida pelo IPCC – das regiões produtoras Norte e Sul do Estado do Espírito Santo, com o mesmo teor de argila, e representativas dos modais produtivos tradicional e sustentável de café conilon e de áreas de pastagens.

Em paralelo, foram coletadas informações dos insumos aplicados e operações associadas à produção de café conilon (tradicional e sustentável) em 25 propriedades cafeeiras, para cálculo das emissões de gases de efeito estufa, a partir do GHG Protocol.

A conclusão do estudo indica que o cultivo de café conilon no Espírito Santo possui balanço de carbono negativo em todos os cenários analisados, ou seja, retém mais gases de efeito estufa do que emite em todo o seu processo produtivo.

No cenário de mudança de uso do solo a partir de pastagem, o balanço de carbono da produção tradicional é de menos 3,01 toneladas de CO2 equivalentes por hectare ao ano, resultado que leva em consideração o sequestro de 6,91 tCO2eq/ha/ano retidas no solo, subtraídas as 3,9 tCO2eq/ha/ano emitidas por meio da aplicação de fertilizantes nitrogenados, resíduo de podas, queima de combustíveis fósseis e outras fontes de emissão que fazem parte do manejo do café.

A adicionalidade de carbono cresce quando se considera a mudança de uso do solo de pastagem para produção de conilon com a adoção de práticas sustentáveis, cujos cafezais possuem balanço de carbono de menos 8,24 tCO2eq/ ha/ano, resultado que leva em consideração o sequestro de 12,22 tCO2eq/ha/ano retidas no solo e um total de 3,98 tCO2eq/ha/ano emitidas durante o processo produtivo.

Também foi calculado o balanço de carbono por tonelada de café produzido no ano para os dois tipos de manejo, tradicional e sustentável. Assim, estes cafezais e o seus respectivos manejos são responsáveis por uma remoção de 0,71 e 1,97 Mg CO2eq a cada tonelada de café produzida ao ano.

Também foi calculado o balanço de carbono por tonelada de café produzido no ano para os dois tipos de manejo, tradicional e sustentável. Assim, estes cafezais e o seus respectivos manejos são responsáveis por uma remoção de 0,71 e 1,97 Mg CO2eq a cada tonelada de café produzida ao ano.

Os resultados apurados denotam que a produção de café conilon capixaba é um importante ativo para a mitigação das mudanças climáticas. A intensa emissão de gases de efeito estufa é uma das principais causas do aquecimento global e a adoção de boas práticas agrícolas no cultivo do café aparece como uma estratégia relevante para remover parte desses gases da atmosfera.

É muito importante destacar o importante benefício ambiental adicional, não computado nos balanços de carbono, que é a vegetação nativa preservada dentro das fazendas produtoras de café. Nas propriedades rurais avaliadas no estudo, há, em média, 338,67 t de CO2eq estocados na forma de área de preservação permanente (APP) e de reserva legal (RL), reforçando que, no Brasil, a produção de café e a conservação do meio ambiente estão unidas.

As adicionalidades apuradas nos balanços de carbono indicam um grande potencial de conexão da cafeicultura do ES com os investimentos verdes, por meio dos diversos instrumentos de financiamento disponíveis para a ampliação da adoção do manejo sustentável nas lavouras e recuperação de áreas de pastagens degradas. Conforme dados do governo do Espírito Santo, há potencial de investimentos em plantio de café para recuperação de cerca de 60% das pastagens capixabas, que possuem níveis de degradação de moderada a severa.

Os resultados desta etapa da agenda de carbono do Cecafé evidenciam, mais uma vez, a capacidade do Brasil atender à crescente demanda de indústrias e consumidores globais por cafés sustentáveis e, ainda, revela que a adoção das boas práticas se faz vital para atenuar os efeitos climáticos extremos, mitigando impactos econômicos na renda dos produtores.

Para saber mais sobre a pesquisa, acesse o relatório em https://www.cecafe.com.br/

Marcos Matos
Diretor Geral do CECAFÉ

Silvia Pizzol – Gestora de
Sustentabilidade do CECAFÉ