O pequeno produtor da cadeia agropecuária desempenha um papel tão importante no Brasil que o sistema é referência para outros países. Segundo dados de 2015 do Governo Federal, pequenos agricultores produzem cerca de 70% dos alimentos consumidos no país e suas propriedades empregam 80% da mão de obra rural. Essas informações mostram o quanto a atividade agropecuária do pequeno e médio produtor é estratégica para o abastecimento da população.

No que diz respeito ao café, 80% da produção provém da agricultura familiar e, ainda, segundo dados do Ministério da Agricultura, a cadeia emprega mais de oito milhões de pessoas, consolidando a posição do café como uma importante fonte de renda.

Em um mundo onde a população cresce em ritmo acelerado e muitas pessoas ainda não têm acesso a alimentação de qualidade, o papel do pequeno produtor é essencial para garantir a segurança alimentar da população brasileira.

De acordo com dados obtidos com a OIC, o consumo mundial de café em 2015 foi 2,24% superior ao volume produzido  no mesmo período, e a tendência é que esse número aumente cada vez mais. A produção precisa se adequar para atender a demanda crescente, mas para isso será necessário adotar tecnologias e boas práticas agrícolas que aumentem sua produtividade sem prejudicar o meio ambiente. Ao mesmo tempo em que a situação se mostra desafiadora, é onde também florescem boas oportunidades.

Não é novidade que o Brasil produz cafés diferenciados por sua qualidade e pela sustentabilidade na produção. Há uma enorme variedade de cafés especiais, pois temos diversos climas, tipos de solo e altitudes nos 7 principais estados produtores de café. Estudos mostram que não só os países desenvolvidos são os grandes consumidores de cafés especiais, como também os brasileiros têm se interessado cada vez mais por esses tipos de grãos. A diferenciação, impulsionada pelas exigências do mercado externo, agrega valor ao produto final e traz novas oportunidades de negócio, tornando o mercado de cafés especiais bastante promissor.

O Brasil tem feito sua parte: de acordo com dados do IPEP Cecafé (participação do preço interno no valor fob das exportações brasileiras de café arábica), o produtor brasileiro é o que recebe a maior parcela do preço atribuído ao seu produto, cerca de 75% registrado nos últimos 12 meses. Além disso, há no país programas de financiamento ao produtor do Funcafé e do Ministério de Desenvolvimento Agrário, que visam fornecer crédito para que os agricultores de café possam dar continuidade ao seu trabalho. Há também modalidades que financiam equipamentos. A mecanização é outro ponto de destaque, pois diminui os custos e aumenta o rendimento de colheita. Inicialmente parece um investimento alto, porém estima-se que o retorno seja em média de quatro anos. No caso dos produtores menos capitalizados, pode-se optar inclusive pela locação de máquinas.

Existem diversas alternativas para a adequação dos produtores, e o desenvolvimento de pesquisas para uma produção sustentável é crucial. Porém, nenhuma iniciativa pode cumprir seu papel adequadamente se não estiver ao alcance de execução do pequeno produtor. Por esse motivo, o setor exportador de café, junto com a Plataforma Global do Café, acrescentou ao seu programa Produtor Informado o Currículo de Sustentabilidade do Café. O curso engloba gestão ambiental e da propriedade e técnicas de cultivo para aumentar a produtividade e garantir a perenidade da produção.

É de extrema importância que esses profissionais tenham acesso a informações para gerir melhor sua propriedade, reduzir os custos de produção, ampliar a produtividade e proporcionar aumento da renda. Ao obter seu sustento de forma satisfatória, ele deixa o legado da produção para seus filhos, diminuindo o êxodo rural e garantindo a continuidade do cultivo. E assim o ciclo da produtividade se fecha, gerando benefícios para todos os envolvidos na cadeia cafeeira.

 

Marjorie Miranda – Coordenadora dos programas de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Cecafé